Me lembro de quando era menino, pequeno, curioso, ganhei um microscópio que me permitiu passar horas da minha vida vendo o mundo nas suas aparições minúsculas.
Ele tinha um espelho por onde refletia a luz para a lâmina que ficava o material a ser ampliado 100x, 200x e 300x.
No meio de tantas aparições me recordo que a combinação da luz refletida junto ao piscar dos olhos criava uma outra visualização que hoje nomearia de bolhas.
Eram pequenas bolinhas que pareciam ter três dimensões, tinham outras cores, possuíam muitas formas dentro de uma forma fechada: a esfera.
Me encantava a asa de borboleta, a antena da formiga, o pedaço de folha, casca de cebola, pétala de rosa, grão de areia, meu próprio esperma, minha saliva e meu sangue.
Me encantava tudo que passava naquelas lâminas, mas nada era mais intrigante que as bolhas que necessariamente se formavam com a combinação dos três elementos: meus olhos, as lentes junto à lâmina e o espelho.
A forma não dita e não catalogada estava justamente nas bolhas.
O que havia no meio.
Não imaginei que anos depois, após tomar alguma decisão que me levou a estar hoje fazendo teatro, neste projeto, atuando no mesmo espaço que cinco grandes mulheres, iria ouvir que o conteúdo que buscamos está Entre.
De repente a imagem da infância ganhou algum outro significado.
As bolhas existiam, eram provocativas. mas não fiquei atento à elas.
Hoje acho que estou começando a entendê-las, só ainda não ganha clareza atualmente onde se encontram meus olhos, a lâmina junto as lentes e o espelho...
Mas isso tem resposta?