Entre idas e vindas
de Ao revés do papel, espetáculo que o Grupo apresenta desde 2012:
No evento do Gaveta
Livre, o espetáculo foi apresentado
depois de diversas mesas de conversas, com escritores que inclusive
admiramos muito - um turbilhão de energias vindas de um público, que ocupou
tantos espaços no teatro do Gaveta, que pude me sentir quente, sendo bem
recepcionada e podendo fazer com muito furor e alegria o Ao revés!
Em Matão, para
crianças, que atentamente assistiram à histórias de Lia, Sr. Ricardo e Ana
Zulmira, para um bebê que chorava em uma cena que pudesse lhe dizer respeito,
além da cachorrinha que se assustou com os gritos guturais do inicio do
espetáculo. E nos olhares infantis e discretos, a descoberta do que contamos e
do que toca, de alguma forma ou de outra.
Na fundação Casa,
para meninos que após o espetáculo estavam com muitas perguntas na ponta da
língua, uma delas e a que talvez seja mais difícil de responder: Dá pra viver
de teatro?
Mais uma vez, havia
olhares de quem estava curioso, pronto para a piada certeira e digna de risos
maliciosos e efusivos, em cada canto da plateia, o que toca é dito e, quem faz,
ouve.
Com a Goiaba, uma
cena sobre uma outra questão da cidade, dessa vez não contada através de
histórias orais, e portanto não carregada de ilegitimidade, já que lendas urbanas
são tratadas somente como lendas urbanas. Esta história foi filmada, nosso
primeiro contato com ela foi pelo Youtube:
No Festival Se Vira
São Carlos, ela veio com tudo e com muita gente, na Praça Pedro de Toledo,
entre outras coisas, estávamos em um evento que representava resistência à uma
conjuntura política ruim em que a cidade vive: a Prefeitura pouco faz pela
Cultura da cidade. Nisso a cena se movimentou, o evento aconteceu, entremeado
ao Sol, aos produtores e artistas da cidade e à nossa Goiaba.
Quando voltamos para
a Fundação Casa, desta vez com a Goiaba, o prefeito não pode ver, por ser muito
compromissado e com agenda lotada, afinal é uma figura pública, não é mesmo? Já
que enfrenta tantas mazelas sociais na cidade e, por isso tem mesmo é que
correr - correr muito, já que está próximo ao ultimo ano de mandato - contra o
tempo e, não ver uma cena de 12 minutos.
Além de todas as
experiências com Ao revés e Goiaba, falar de "Sapateira" é passar por
todas essas experiências e lembrar de Marcelino Freire lendo seu conto do livro "Amar é crime",
trecho que leu no Festival Gaveta Livre:
"Ricas Secas
Não somos pobres
Nós somos ricos
Não temos planícies
avermelhadas nem juazeiros
Não somos infelizes
São Paulo é a cidade
da felicidade.
Ah, esse sufoco logo
passa. Nós temos dinheiro. Nós temos o poder. A gente é capaz de mandar
engarrafar. E trazer. Tudo que é correnteza. Mudar um rio de lugar. Pode crer.
A gente paga
tecnologia japonesa.
Italiana, escocesa.
A gente estuda. A
gente não é analfabeto. Nem atrasado. A gente não é ignorante. A gente não vai
dar o braço, o pano, a toalha a torcer. O governo, daqui, faz chover. Por isso
essa calma. Por isso a gente não alardeou.
Pra quê? Pobre é que
gosta de grito. A gente é educado. A gente não se escancara feito um esfomeado.
Nossa seca não é
seca. É crise hídrica. É outra coisa. Viu algum jumento, por aqui, agonizar?
Viu cachorra reclamar?
Nos Jardins, os
cachorros continuam a passear. E a cagar. Como se nada, ao redor, estivesse
acontecendo. E nada, de fato, está acontecendo. É preciso se concentrar. Manter
a postura.
Nós temos classe.
Nossos jardins continuam sendo jardins. Alamedas. E vou dizer mais umas coisa.
Numa boa, sabe quem trouxe essa desgraça pra cá?
Os nordestinos
[...]"
Um trecho que revela
um pouco de cada elemento que resgatamos para nossa "Sapateira", sendo estrangeira,
também chamada de Sapo de Fora -nome inclusive de uma das nossas cenas que
apresentamos, junto com a Goiaba!
Alias, os grifos são meus!