''Caia na estrada e veja a multidão
Falar do homem não é tarefa para um próprio homem
E isso passa de qualquer ideia ou relação.
E onde fica minha vida? '' ( setembro 2011)
''Maldita 'doxa' que na autópsia
Da palavra morta
Se fez presente enquanto ria
Deste caminho tão pouco cavalgado'' (agosto 2011)
''Onde fica a Andreia?
Onde ficar a Andreia?
Diga, Criatura, que se afasta da ideia
Diga, Criatura, que se afasta da plateia'' (julho 2011)
'' E quando ver o mar em chamas
Não se esqueça de me chamar
Olhe o estrombo a olhar
E os balões a inflar...'' (junho 2011)
.Soltas pelo ar depois de ensaios e encontros.
29 setembro 2011
27 setembro 2011
Herói.Herói.Todo mundo é Herói!
Não me venha com essa historinha, pra boi dormir, de que todo mundo é herói. A pessoa não sabe nem o que é herói e vem falar de super-homens/ super-mulheres por aí. O pai dos burros disse que herói é um homem extraordinário pelos feitos guerreiros. Interessante. Santos Dumont era herói. O vizinho de baixo, que saiu as 5 da manhã para trabalhar, perdeu o dedo na máquina guilhotina da fábrica inútil do interior, ele também é herói. A manicure passou aids para uma cliente após não limpar o alicate, ela não é uma heroína, ao menos que seja do ponto de vista do vírus, se ele tivesse consciência e se desenvolvido como nós - seres com córtex cerebral com muitos sulcos para processamento neuronal, ou únicos vertebrados, faz questão de dizer o livro didático. Herói. Herói é criação desse mesmo ser do córtex cerebral e dito detentor da razão ou entendimento. Herói é produto barato vendido ao lado do pastel de feira do japonês nos domingos pela manhã em qualquer canto desse vasto mundo. Herói. A velhinha se orgulhou ao dizer que heroísmo era a vida dos seus pais que vieram da segunda guerra mundial. Fugiam de Hitler. O rapaz, da camiseta vermelha, se emocionou ao dizer que herói era seu parente próximo que tinha sofrido tortura na ditadura militar brasileira. Segundo seus relatos, nos tempos de chumbo, o parente foi pego, apanhou e foi pendurado pelos testículos levando choques elétricos caso chorasse. Para terminar a sessão do dia era esfolado no peito após ser arrastado pelo automóvel e então recebia um derramamento de óleo e sal no corpo sendo obrigado a sair no sol quente com um prego enfiado nos calcanhares. O outro ainda disse que Heroico era o ato da sua mãe ao pari-lo. Tinha sofrido no decorrer da gestação e após realizar o trabalho de parto poderia ter ido dessa para melhor, mas sobreviveu. Herói, herói?
Que maldito é esse ser que passou na vida de todo mundo? É uma reencarnação ou espírito que brinca de entrar e sair no corpo da pessoas para que elas possam realizar um único ato?
Que maldito ser distante é esta criatura. Além de construir os altares é fruto de todas essas construções que há por aí. Deve ser isso... Fruto de construções. Se os ditos humanos não tivessem seus córtex cerebrais desenvolvidos não teriam armazenado informações, desenvolvido linguagens, não teriam ótimas percepções, não teriam emoção e muito menos memória. Seriam eternamente uma tábua rasa. Se isso tivesse acontecido não teriam cultivado tanta cultura, criado tanta religião, inventado tanta arte. Maldito seja aquele ser que desceu da árvore e guardou o osso. Filha de uma Grande Mãe aquele que nos condenou a viver esta merda de vida eterna...Passageira biologicamente, consecutiva ideologicamente.
E não me venha com historinhas de que precisamos de heróis. O outro cientista bobo disse que todo homem necessita de um deus. Eu nunca necessitei de um deus para viver. Com ele ou sem ele minha vida continuo sendo a mesma. Com herói ou sem herói minha vida continuará a ser a mesma. Que maldito herói é esse?
Se deus e heróis existem então tudo pode... Dostoiévski devia ter dito isso. Isso sim. Nunca ninguém nasceu livre. Se alguém nasceu assim, no dia seguinte uma moral o obrigou a não ser mais. Maldito seja aquele que um dia disse ser herói. Na tragédia grega, o confronto da democracia era estampado claramente, as leis populares versus as leis novas, provindas da Assembleia, deram um tiro de largada para surgir Antígona. Deram um tiro de largada para se usar a figura mitológica de Édipo. Deram um tiro de largada para aparecer as Bacantes e o pobre homem que levou o fogo para a humanidade. HERÓI? Queria ser herói...
Maldito seja aquele que um dia quis falar o que era herói. Talvez isso nem exista. Amor existe? Poesia existe? Suicídio existe? Se existem ninguém nunca conseguiu decifrar o que de fato é, talvez herói seja isso... Algo que nunca ninguém soube o que é, mas todo mundo cisma dizer que existe.
[monólogo inacabado]
Não posso exigir que você toque no mesmo ritmo que o meu.
Me lembro que o rapaz do cabelo comprido afinava o cavaquinho olhando por cima dos óculos os demais músicos que davam risadas segurando seus copos americanos umedecidos de cerveja. Não posso exigir que você toque no mesmo ritmo que o meu, era a única coisa que pensava naquele momento, afinal, cada integrante daquela roda de samba vinha de um lugar. Um estava de passagem por essas terras, carregava consigo somente a flauta transversal e o sorriso garoto. Outro vinha de outra terra mas por aqui havia se fixado há alguns anos, afinava o violão da sua forma e cantava como bem entendesse. Outro ainda era de outra terra que da outra terra não era e vai lá se saber da onde veio, só tinha seu pandeiro e tronco forte, olhava de uma forma penetrante e desgastante. O quarto,quinto, sexto e sétimo por aqui já estavam . Um era da banda de rockabilly, Outro da de blues, Outro Um tocava na orquestra experimental e o Outro Dois não tocava nada mas quis entrar na banda... ''Pra ganhar o quê?'' . Não posso exigir que alguém toque no mesmo ritmo que o meu, mas como fazer uma melodia partindo da heterogeneidade? Como compôr uma música a partir da particularidade de cada integrante deste grupo de samba? Juro que nunca soube responder essas questões. Juro, ainda, que tenho ciência de que jamais saberei responder tal indagação.Mas me deveria preocupar com isso?
Lembro que o contrato para tocar na festa caiu na caixa de entrada esses dias. No corpo da carta eletrônica dizia que devemos estar preparados para uma multidão que nos espera. Bacana, mas por onde começar? As vezes nem instrumentos temos. Quer dizer, instrumentos temos, sabemos manuseá-los - algumas vezes - mas muitas vezes nossos instrumentos são esquecidos. É isso. Deixados de lado como se nunca tivesse existido. A rapazola ligou dizendo que o violão desafinou, o compadre mandou um bilhete, via pombo correio, falando que a corda do cavaquinho estourou, o moço de Trinta Anos - casado com a mulher de 30 do Balzac - falou que tinha bodas de prata para comemorar... E assim, onde essa história vai chegar?
Tantos Pla(n)tões .Webers, Grotowskis, Lewis, Annes, fazem nossos dias... Mas quantos dias nós fazemos?
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