22 maio 2011

Ai, ai , ai Kaai 'pira!




Fuçando no sítio denominado Viola Tropeira encontrei um texto muito interessante da escritora Vanda Catarina P. Donadio, confira:





O caipira por Vanda Catarina P. Donadio

      Caipira é uma denominação tipicamente paulista. Nascida da primeira miscigenação entre o branco e o índio. "Kaai 'pira" na língua indígena significa, o que vive afastado, ("Kaa"-mato ) ( "Pir" corta mata ) e ( "pira"- peixe). Também o cateretê, inicialmente uma dança religiosa indígena, na qual os Índios batiam palmas, seguindo o ritmo da batida dos pés, deu origem a "catira". A catira passou a ser um costume de caboclos, antigamente chamados de "cabolocos". Com o avanço dos brancos em direção ao Mato Grosso e Paraná a cultura caipira foi junto, levada principalmente pelos tropeiros. Hoje o termo "Caipira" generalizou-se sendo para o citadino uma figura estereotipada. Mas esse ser escorregadio e desconfiado por natureza, resiste às imposições vindas de fora. Tem uma espécie de cultura independente, como a dos Índios. Infelizmente alguns intelectuais passaram de modo errôneo a imagem do caipira. Hoje as festas "caipiras" que se encontram nas cidades e nas escolas não passam de caricaturas de uma realidade maior. Foi criada uma deturpação do que o povo brasileiro possui de mais profundo e encantador em suas raízes. "A primeira mistura", a pedra fundamental. O falar errado do caipira não é proposital. Permanecendo ele afastado das cidades, mantém no seu dialeto, muito conhecimento, que o homem da cidade já perdeu, com sua prosperidade aparente. O caipira conhece as horas apenas olhando para o céu e vendo a posição do sol. Sabe se no dia seguinte virá chuva ou não, pois conhece a fundo o mundo natural. Tem um chá para cada doença, uma simpatia para cada tristeza... Para o citadino o caipira virou motivo de divertimento, quando deveria ser o exemplo de amor à terra. Do antepassado Índio ele herdou a familiaridade com a mata, o faro na caça, a arte das ervas, o encantamento das lendas. Do branco a língua , costumes, crenças e a viola, que acabou sendo um dos símbolos de sua resistência pacífica. Muitos são os ritmos executados na viola, da valsa ao cateretê. Temos Cateretê baião; Chula polca; Toada de reis: Cateretê- batuque, Landú, Toada; Pagode, etc. Apesar de parecer um homem rústico, de evolução lenta, nas suas mãos calejadas ,ele mantém o equilíbrio e a poesia da fusão duas etnias. E traduz seu sentimento acompanhado da viola, companheira do peito, onde canta suas esperanças, tristezas e as belezas do nosso país. A música rural, criativa , contrapõe-se aos modismos vindos do exterior. Ainda é uma forma resistente de brasilidade, feita por um do povo que conhece muito o chão do nosso país. Hoje estão querendo fazer uma fusão cultural, a do "caipira" com o "country" americano. O que se vê, é gente fantasiada de "cowboy", mas que não sabe sequer em qual fase da lua estamos...Para homenagear o verdadeiro caipira paulista aqui temos uma música bem conhecida:, cantada pelo jovem violeiro Rodrigo Matos, composição de Cacique e Carreirinho; 

Pescador e Catireiro ( Cacique e Pajé)

Comprei uma mata virgem /Do coronel Bento Lira
Fiz um rancho de barrote /Amarrei com cipó cambira
Fiz na beira da lagoa /Só pra pescar traíra
Eu não me incomodo que me chamem de caipira /No lugar que índio  canta
Muita gente admira /Canoa fiz de paineira
Varejão de guaruvira /A poita pesa uma arroba
Dois remos de sucupira /Se jogo a tarrafa n' água
Sozinho um homem não tira /Capivara é bicho arisco quando cai
Na minha mira /Puxo o arco e jogo a flecha
Lá no barranco revira /Eu sou grande pescador
também gosto de um catira/Quando eu entro num pagode
não tem quem não se admira /No repique da viola
Contente o povo delira /Se a tristeza está na festa eu chego
Ela se retira /Bato palma e bato o pé
Até as moça suspira /Muita gente não conhece
O canto da corruíra /Nem o sabe o gosto que tem
A pinga com sucupira /Morando lá na cidade
Não se come cambuquira /É por isso que eu gosto do sistema do caipira
Pode até ficar de fogo /Ele não conta mentira




Vanda Catarina P. Donadio é escritora infanto-juvenil, professora de idiomas e divulgadora cultura



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