crescia com a vontade estampada de ir a um baile. Isso memô, a um baile. Na época, na
cidade, acontecia baile quase toda semana, sempre no memô lugar, ali, perto da praça
do Bonde. E nada da minina aparece. Seus pais eram severos. E sempre que existia uma
dificuldade desse tamanho, as pessoas se atinham ao Tinhoso. Era pacto de violeiro, pacto pra
chover, pacto pra mode nascer filho hómi, e a moça... a moça fez seu pacto pra ir ao baile!
Como o Tinhoso não faia, numa bela noite de sexta feira, lá foi ela... levada pelo Simitrole da
fazenda. Quem puxava era a égua Valentina e o peão Mangaba no comando. Cortaram o
estradão de chão duro e carregado de pedra, não poderia ser fácil.
Chegando no balão, ao descer do simitrole, a moça chamou a atenção de todos. E fez a maior
atrapaiada da sdua vida. Disse assim: Nesse baile, eu vou dançar nem que seja com o Diabo!
E seguiu para dentro do recisnto. O pobre peão Mangaba escutou o disparate. De mansinho,
se acomodou no simitrole depois de amarrar a égua Valentina no morão da cerca que não
ficava longe dali.
E lá se foi a Minina.
O baile tinha as cores que ela imaginava em seus delírios. As danças eram lindas e ela olhava
para aprende os passos. Como ela faria se um rapaz a convidasse para dançar? Faceira
como era, logo aprendeu, e suas expectativas aumentavam a cada fim de música. Será agora?
Ninguém a convidava. Mais uma, nada. Outra, outra... E a moça foi se franzindo na cadeira,
murchando como uma rosa se despede da primavera.
Foi aí que todos tiveram uma estranha surpresa. Um homem desconhecido adentrou no
salão, imponente que só ele, vestindo trajes modernos e elegantíssimos, como ninguém ali
usava. Chamou a atenção até mesmo dos músicos que arrastavam o som da sanfona, violão,
percussão improvisada e mais dois ou três instrumentos que não me arrecordo.
Ele estava predestinado a dançar com ela, a Minina. Sem cumprimentar uma alma de Deus, se
aproximou dela e a convidou para dançar.
A música seguiu alegremente, assim como a dança. Pareciam ser feitos um para o outro.
Rodopiavam pelo salão, dançaram, dançaram, dançaram. Não conversaram, apenas
dançaram.
Foi quando aconteceu um grande estouro, a ponto de deixar todo mundo cego naquele
momento. Apenas dava pra ver um vulto no meio do fumaceiro. Era ele, o Tinhoso, seus chifres
e seu rabo pontudo dando rodopios infernais. A moça, ninguém nunca mais viu, apenas seu
vestido restou, esticado no tablado da casa de baile.
Logo, a poeira baixou, as pessoas sumiram, largando para trás o lindo vestido inocente da
Minina, e levando na memória o cheiro de enxofre daquela fumaça densa e misteriosa.
Até hoje, nunca mais ninguém soube nenhuma notícia dela. Nem mesmo o peão Mangaba,
que esperava no Simitrole, teve notícia da Minina.
2 comentários:
São Carlos e seus Causos!
Seus Causos e São Carlos. Ótimos por sinal! Há vários.
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