Escrito em 1933 e publicado somente quatro anos depois, O Rei da Vela de Oswald de Andrade será lido relido e debatido nas leituras públicas organizadas pelo TUSP na cidade de São Carlos.
A Cidade do Clima é vizinha da cidade que tem nome de Ave que se alimenta de Mel, Araraquara, onde nasceu José Celso Martinez Corrêa diretor e ator que trinta anos depois de lançada montou no Teatro Oficina a peça do paulista que escreveu diversas peças, manifestos, romances e poesias.
Veja uma breve sinopse da obra e o fragmento comentado que será lido na terça feira com probabilidade de chuva na cidade das Araucárias.
Sinopse:
Escrita em 1933 e publicada em 1937, o Rei da Vela constitui-se no texto teatral mais importante de Oswald de Andrade. A peça demorou trinta anos para ser apresentada em São Paulo, pelo Grupo Oficina, sob a direção de José Carlos Martinez Correia; a encenação marcou época na história do teatro brasileiro.
O fragmento selecionado pertence ao primeiro ato, dos três que compõem a peça. Ele contém traços que nos permitem situar e caracterizar a obra como um todo. As personagens têm os nomes de dois famosos amantes da Idade Média: Abelardo e Heloísa. Ele, um teólogo francês de século XII, ela, sobrinha de um sacerdote. Pouco tem a ver, portanto, com as personagens oswaldianas. Nesse sentido, o autor usa os nomes de modo paródico, uma vez que Abelardo I se une a Heloísa por puro interesse: é um agiota, que vive da exploração dos outros, cujo devedores se apresentam, na peça, dentro de uma jaula. Heloísa de Lesbos pertence à aristocracia rural brasileira, falida e em decadência. Deste modo, o sentido romântico do texto original fica totalmente subvertido pela moderna interpretação de Oswaldo de Andrade.
Abelardo I é um representante da burguesia ascendente da época. Seu oportunismo, aliado a crise da Bolsa de Valores de Nova York, de 1929, permite-lhe todo tipo de especulação: com o café, com a indústria, etc. Sua caracterização como o “Rei da Vela” é extremamente irônica e significativa: ele fabrica e vende velas, pois “as empresas elétricas fecham com a crise. Ninguém mais pode pagar o preço da luz”. Também é costume popular colocar uma vela na mão de cada defunto, assim Abelardo I “herda um tostão de cada morto nacional”. Abelardo torna-se então o símbolo da exportação, a custa da pobreza e das supertições populares.como personagem, ele também denuncia a invasão do capital estrangeiro; daí a irônica consideração sobre “a chave milagrosa da fortuna, uma chave yale”.
Heloísa representa a ruína da classe fazendeira. Seu pai, coronel latifundiário, vai a falência, num retrato em que predomina a perversão e o vício, símbolo de uma classe em decadência. A aliança de Abelardo e Heloísa pode, assim, representar a fusão de duas classes sociais corruptas pelo sistema capitalista.
Uma terceira personagem vem a completar o quadro social de Brasil da época: Mr. Jones, que simboliza o capital americano: sua presença revela um país endividado: “os ingleses e americanos temem por nós. Estamos ligados ao destino deles. Devemos tudo o que temos e o que não temos. Hipotecamos palmeiras... quedas de águas. Cardeais!”
O Rei da Vela, obra representativa da década de 30, marca uma época de preocupações e compromissos sociais.
O fragmento selecionado pertence ao primeiro ato, dos três que compõem a peça. Ele contém traços que nos permitem situar e caracterizar a obra como um todo. As personagens têm os nomes de dois famosos amantes da Idade Média: Abelardo e Heloísa. Ele, um teólogo francês de século XII, ela, sobrinha de um sacerdote. Pouco tem a ver, portanto, com as personagens oswaldianas. Nesse sentido, o autor usa os nomes de modo paródico, uma vez que Abelardo I se une a Heloísa por puro interesse: é um agiota, que vive da exploração dos outros, cujo devedores se apresentam, na peça, dentro de uma jaula. Heloísa de Lesbos pertence à aristocracia rural brasileira, falida e em decadência. Deste modo, o sentido romântico do texto original fica totalmente subvertido pela moderna interpretação de Oswaldo de Andrade.
Abelardo I é um representante da burguesia ascendente da época. Seu oportunismo, aliado a crise da Bolsa de Valores de Nova York, de 1929, permite-lhe todo tipo de especulação: com o café, com a indústria, etc. Sua caracterização como o “Rei da Vela” é extremamente irônica e significativa: ele fabrica e vende velas, pois “as empresas elétricas fecham com a crise. Ninguém mais pode pagar o preço da luz”. Também é costume popular colocar uma vela na mão de cada defunto, assim Abelardo I “herda um tostão de cada morto nacional”. Abelardo torna-se então o símbolo da exportação, a custa da pobreza e das supertições populares.como personagem, ele também denuncia a invasão do capital estrangeiro; daí a irônica consideração sobre “a chave milagrosa da fortuna, uma chave yale”.
Heloísa representa a ruína da classe fazendeira. Seu pai, coronel latifundiário, vai a falência, num retrato em que predomina a perversão e o vício, símbolo de uma classe em decadência. A aliança de Abelardo e Heloísa pode, assim, representar a fusão de duas classes sociais corruptas pelo sistema capitalista.
Uma terceira personagem vem a completar o quadro social de Brasil da época: Mr. Jones, que simboliza o capital americano: sua presença revela um país endividado: “os ingleses e americanos temem por nós. Estamos ligados ao destino deles. Devemos tudo o que temos e o que não temos. Hipotecamos palmeiras... quedas de águas. Cardeais!”
O Rei da Vela, obra representativa da década de 30, marca uma época de preocupações e compromissos sociais.
Não perca amanhã, dia 03/5,às 12h30 horas (até 14h), no Centro Cultural da Usp
(entrada pela Carlos Botelho, ao lado do Observatório)
Oswald de Andrade(1890-1954)
O Rei da Vela encenado pelo Oficina.
Veja também a versão cinematográfica:
José Celso Martinez Corrêa diz sobre O Rei da Vela
Não perca a Leitura Pública, desta vez Oswald de Andrade será degustado e aclamado
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