27 setembro 2011

Não posso exigir que você toque no mesmo ritmo que o meu.

Me lembro que o rapaz do cabelo comprido afinava o cavaquinho olhando por cima dos óculos os demais músicos que davam risadas segurando seus copos americanos umedecidos de cerveja. Não posso exigir que você toque no mesmo ritmo que o meu, era a única coisa que pensava naquele momento, afinal, cada integrante daquela roda de samba vinha de um lugar. Um estava de passagem por essas terras, carregava consigo somente  a flauta transversal e o sorriso garoto. Outro vinha de outra terra mas por aqui havia se fixado há alguns anos, afinava o violão da sua forma e cantava como bem entendesse. Outro ainda era de outra terra que da outra terra não era e vai lá se saber da onde veio, só tinha seu pandeiro e tronco forte, olhava de uma forma penetrante e desgastante. O quarto,quinto, sexto e sétimo por aqui já estavam . Um era da banda de rockabilly, Outro da de blues, Outro Um tocava na orquestra experimental e o Outro Dois não tocava nada mas quis entrar na banda... ''Pra ganhar o quê?'' . Não posso exigir que alguém toque no mesmo ritmo que o meu, mas como fazer uma melodia partindo da heterogeneidade? Como compôr uma música a partir da particularidade de cada integrante deste grupo de samba? Juro que nunca soube responder  essas questões. Juro, ainda, que tenho ciência de que jamais saberei responder tal indagação.Mas me deveria preocupar com isso? 
Lembro que o contrato para tocar na festa caiu na caixa de entrada esses dias. No corpo da carta eletrônica dizia que devemos estar preparados para uma multidão que nos espera. Bacana, mas por onde começar? As vezes nem instrumentos temos. Quer dizer, instrumentos temos, sabemos manuseá-los - algumas vezes - mas muitas vezes nossos instrumentos são esquecidos. É isso. Deixados de lado como se nunca tivesse existido. A rapazola ligou dizendo que o violão desafinou, o compadre mandou um bilhete, via pombo correio, falando que a corda do cavaquinho estourou, o moço de Trinta Anos - casado com a mulher de 30 do Balzac - falou que tinha bodas de prata para comemorar... E assim, onde essa história vai chegar?

Tantos Pla(n)tões .Webers, Grotowskis, Lewis, Annes, fazem nossos dias... Mas quantos dias nós fazemos?

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