Fica o não dito e o
aprendizado
Antes de tudo
imagino que tenhamos nos banhado em camomila.
Calma e aprendizado
podem ser boas palavras para uma semana um tanto compromissada e engajada.
Parte-se de um ponto
que mal se sabe existir e vai-se longe
(adoro pensar assim, embora o longe possa ser um passo milimetricamente
invisível)
Pergunta-se e se
responde (de uma forma ou de outra). Fica o dito e ficam reticências (Provocar
e ser delicado- Eis um dom e uma virtude, algo para a lista de
"autocontrole")
Em meio ao caos de
uma preparação que exige cuidado e aprendizado, observação e distanciamento,
coragem e covardia diante das possibilidades que essa vida de Classe Média nos
dá, percebo que há muito material, alguns que mal consigo acessar, apalpar, já que
envolvem o olhar apurado do observador esperto, que sabe olhar a si e aos demais e ainda assim, de alguma
forma, colocar fé nessa humanidade.
Baboseiras a parte,
minhas listas de afazeres tornam-se a se repetir a e se organizar.
- Preciso de um sapato de salto (preferencialmente confortável para os movimentos de cena- será pedir demais?)
- Preciso me engajar na ordenação do corpo (e dos corpos)
- Estar em harmonia com objetos cênicos, meus pensamentos e a vontade de me descontrolar (as vezes a criação surge do meu completo descontrole em não conseguir ficar parada, um problema que vai para a lista de problemas)
Dos desabafos
esbaforidos que sempre ressurgem:
Uma flor surge no
asfalto em meio à muita dor e muitas coisas difíceis de serem superadas e que
talvez nunca sejam, não falamos de evolução, mas de trabalho que se acumula e
se perde, sempre em ondas, ondas nunca horizontais ou verticais. Essa mania de
racionalização de quem acha que a vida é linda me incomoda (me incomodo a mim
mesma). Lambuze-se no podre e vamos conversar.
E bem, por pensar em
tantas coisas e estar realmente nadando no caos, me lembrei de uma frase do
Esperando Godot do Beckett:
" Eis o homem,
colocando nos sapatos a culpa dos pés"
(Vladimir diz isso à Estragon ainda no início
da peça, que fique claro que é uma lembrança, não achei o Esperando Godot aqui
-em casa- para colocar a frase exatamente como ela é traduzida)
Para não me estender
muito mais, fiquei procurando referências pessoais que me animam e que podem
fazer parte do processo, uma delas é um conto da Clarice Lispector chamado
Esvaziamento, ele sempre me persegue de uma forma ou de outra. Aqui coloco uma
foto do final do conto, um spoiler importante para falar de despedidas e
talvez, ai fica a critério do leitor, de fuga:
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