24 maio 2015

Listar a falta - Ana Garbuio (Ana Gê)

Fica o não dito e o aprendizado

Antes de tudo imagino que tenhamos nos banhado em camomila.
Calma e aprendizado podem ser boas palavras para uma semana um tanto compromissada e engajada.
Parte-se de um ponto que mal se sabe existir e vai-se longe  (adoro pensar assim, embora o longe possa ser um passo milimetricamente invisível)

Pergunta-se e se responde (de uma forma ou de outra). Fica o dito e ficam reticências (Provocar e ser delicado- Eis um dom e uma virtude, algo para a lista de "autocontrole")

Em meio ao caos de uma preparação que exige cuidado e aprendizado, observação e distanciamento, coragem e covardia diante das possibilidades que essa vida de Classe Média nos dá, percebo que há muito material, alguns que mal consigo acessar, apalpar, já que envolvem o olhar apurado do observador esperto, que sabe olhar a si e aos demais e ainda assim, de alguma forma, colocar fé nessa humanidade.

Baboseiras a parte, minhas listas de afazeres tornam-se a se repetir a e se organizar.
  • Preciso de um sapato de salto (preferencialmente confortável para os movimentos de cena- será pedir demais?)
  • Preciso me engajar na ordenação do corpo (e dos corpos)
  • Estar em harmonia com objetos cênicos, meus pensamentos e a vontade de me descontrolar (as vezes a criação surge do meu completo descontrole em não conseguir ficar parada, um problema que vai para a lista de problemas)

Dos desabafos esbaforidos que sempre ressurgem:

Uma flor surge no asfalto em meio à muita dor e muitas coisas difíceis de serem superadas e que talvez nunca sejam, não falamos de evolução, mas de trabalho que se acumula e se perde, sempre em ondas, ondas nunca horizontais ou verticais. Essa mania de racionalização de quem acha que a vida é linda me incomoda (me incomodo a mim mesma). Lambuze-se no podre e vamos conversar.


E bem, por pensar em tantas coisas e estar realmente nadando no caos, me lembrei de uma frase do Esperando Godot do Beckett:

" Eis o homem, colocando nos sapatos a culpa dos pés"
 (Vladimir diz isso à Estragon ainda no início da peça, que fique claro que é uma lembrança, não achei o Esperando Godot aqui -em casa- para colocar a frase exatamente como ela é traduzida)  


Para não me estender muito mais, fiquei procurando referências pessoais que me animam e que podem fazer parte do processo, uma delas é um conto da Clarice Lispector chamado Esvaziamento, ele sempre me persegue de uma forma ou de outra. Aqui coloco uma foto do final do conto, um spoiler importante para falar de despedidas e talvez, ai fica a critério do leitor, de fuga:







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