Essa criação é uma forma de expressão que expressa uma outra criação. Gosto da poesia. Da poesia que dá vida à própria vida. Tornando-a desperta!
Como um grupo de estrangeiras latinas coloridas. Carregando nas costas cestas, cestos. Um artesanato que não sei como se chama. Perdidas, sozinhas. Em meio a um caminho, em uma praça, ao lado de uma rotatória, antes de uma ponte, embaixo de uma rodovia. O céu tem uma cor que nunca teve. Como estar em um corredor escondido de uma loja de 1,99 cheio de vasos e livros e ouvir o silêncio que passa pela tubulação de ventilação que gira no teto como o ritmo de uma peça de teatro. E o silêncio é o silêncio de crianças brincando na escola vizinha. Como coxinha. Como poesia!
Adiantada e enganada para criar esse texto, que me revela um tanto a mais, comia e pensava no que escrever. Estava almoçando em um self service que fica no caminho entre minha casa e o trabalho onde havia coxinha com algum recheio exótico como opção. De cara não me serviria dessa especialidade, mas como pensava no texto, não pude recusar. Qual a poesia da coxinha?
Enquanto degustava a especiaria, lembrei que não gostava tanto de coxinha quando criança. Nos aniversários, preferia outros salgadinhos encomendados requentados como quibe, rissoles de catupiri, bolinha de queijo e até empada de palmito. Porém, com a maturidade fui aprendendo o seu valor. Fui compreendendo a delícia do biquinho crocante que só o formato de uma coxinha pode nos proporcionar. Como o conforto que uma família de classe média do interior paulista do início do terceiro milênio pode desfrutar.
Essa burguesia também tem uma cultura particular. A de comer coxinha, um salgadinho brasileiro de origem paulista também comum em Portugal à base de massa feita com farinha de trigo e caldo de galinha que envolve um recheio elaborado com carne temperada de frango, em festas de aniversário. Ali no self service, fritava sobre toda essa poesia quando me dei conta que almoçava coxinha com garfo e faca! Agradeci ao cardápio pela inspiração. Fui ao caixa pagar a conta, onde o proprietário me tratou muito bem até eu passar o cartão. Crédito!
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