16 julho 2015

O dia em que o Ao Revés do Papel entrou na Fundação Casa - por Bruno Garbuio

Foi numa terça dessas comuns, com vento de São Carlos e sol quente das 11h da manhã. Chegamos na Fundação Casa. Fomos até o interfone ao lado da guarita com vidros filmados e alguém nos pediu nossos RG's, na sequência avisou: é proibida a entrada de celulares. A revista feita de costume foi realizada, em seguida nos dividimos; quem tinha que se preparar para apresentar foi pruma sala, quem precisava arrumar o tapete de cenário assim como confirmar o local possível de apresentação foi pra algum lugar atrás das grades amarelas.
 Nosso público: 60 meninos, de 13 a 19 anos, "criminosos". Roubo, tráfico e blá blá, blá...

                                                                           filho de granfino lá não está preso não.

Uniformizados, da roupa ao corte de cabelo, as particularidades ficam evidenciadas nas tatuagens, cicatrizes e olhares (principalmente). Estávamos em uma quadra poliesportiva - acima de tudo - após dezenas de degraus e não sei quantos lances de escada. Tinha muito vento e a paisagem verde à vista atrás dos muros e cercas farpadas  nos mostrava o que era uma possível ideia de liberdade. Nossa brincadeira foi realizada, entre uma emoção forte de ver cada olhar atento e uma diversão juvenil em cada brincadeira vinda da platéia. Aconteceu e no término os olhares curiosos dirigidos aos que estavam no local da cena não deixaria passar em branco uma prosa. Conversa aqui, perguntas de lá, o papo indicava que não teria fim... E se assim fosse não haveria problema, confesso, com muita emoção e lágrimas nos olhos, que foi um prazer.

Senhor Bruno, há quanto tempo faz teatro?

Senhora Nádia, a senhora trabalha só com isso?

O Senhor e as Senhoras já tinham vindo aqui?

Lá fora enxergam a gente de outra maneira, Senhor!

Não precisa nos chamar de Senhor ou Senhora, temos quase a mesma idade que vocês.
É respeito, Senhor, é respeito!

Eles precisavam almoçar, nós precisávamos ir embora, esse foi o motivo do fim da conversa. Um convite foi feito: venha conhecer onde eles dormem e ficam. Entramos nos quartos, quartos não, celas! Dessas que possuem maquiagem para esconder o que há de mais frio e feio. Dessas que têm mais meninos do que comporta. Nos apresentaram a Fundação toda, suas salas de atividades, os programas, os projetos, o refeitório com todos os pratos montados. Nos falaram de quem estava pra ser julgado e daqueles que já foram. Das brigas e problemas. 

Agora, não me venham os conservadores dizerem que a redução da maioridade penal precisa ser efetivada, porque ela já acontece há muito tempo mas com um nome de instituição que parece até filantrópica, mas que constrói socialmente um estigma carregado por todos que ali passaram: os ex-febem


Uma indicação musical de Mylene Corcci:





Agora três pontos: O primeiro é um pedido de desculpas pela demora da postagem, estávamos esperando fotos da apresentação que os próprios funcionários da instituição ficaram de nos passar, mas devíamos ter percebido que é claro que eles vão postar primeiro nas suas imprensas oficias para depois nos passar.
O segundo é dizer que nem tudo é flores, mas há perfume em alguns lugares. Nossa apresentação foi tão positiva que nos convidaram para estarmos amanhã novamente, desta vez com a Composição da Goiaba e nos pediram indicações de artistas da cidade para fazerem o mesmo que fizemos 
E o terceiro e talvez mais importante é um agradecimento especial à Claudia Alves Fabiano do Tusp São Carlos que nos indicou para apresentarmos. É isso, estamos juntos, nessa rede maluca! Muito Obrigado!

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