Há uma semana apresentamos o Ao Revés do Papel na Praça da Independência pelo VIII FULEC. Na nossa sinopse já apontamos: somos três andarilhos que vagueiam, param e então contam suas histórias. Um homem comum que carrega só o que sobrou, uma mulher que dizem que dançou com o diabo e uma prostituta que sonhava em se casar. Estávamos em uma praça linda. Entre a vida e a morte. Entre o fluxo intenso da cidade e o silêncio da tradição cristã do velar. Na praça onde minutos antes de chegarmos homens uniformizados varreram por completo. Homens que vieram com um ônibus torto. Homens que cumprem pena em regime semi-aberto e que durante o dia passam suas vassouras de palha onde outros homens dormem. A diferença do homem' que dorme e varre e do homem que dorme na praça, é a liberdade. O primeiro está condicionado a cumprir uma pena , o segundo está condenado a acordar.
"Todo mundo tem uma história pra contar..."
Nós fazemos teatro. A arte da representação permiti, dentre outras coisas, contar a realidade "que aqui fora nem nos demos conta" como já disse Leci Brandão. Mas quando a realidade, através dos arquétipos, é contada ao lado dela mesma, dela em si, o Teatro ( tanto o local, quanto o ato) ultrapassa a esfera do rito arquetípico, vira uma síntese heterogênea do mundo e do faz de conta. Nós éramos do Paraguay, como brincou Rodrigo, um dos homens que dorme na praça, em contraposição a ele mesmo que dizia ser o original. Nós estávamos muito sujo em contraposição a ele que além de limpo tinha uma namorada. O homem da peça tinha um carrinho que mal cabia meia dúzia de latinhas, como bem frisaram. Nós não somos, eles são. Nós não sabemos o que é a vida e morte na Praça da Independência, eles sabem. É óbvio que este texto só chove no molhado afinal é a Representação o nosso ofício. São máscaras que vestimos, arquétipos que revestimos e histórias que não são nossas que contamos, mas todo esse revelar da nosso faz de conta permite, quase como um pingo pong, o revelar deles mesmos. E não há como negar que não houve identificação. Foi tanta que a resposta foi imediata e uma frase no meio da peça surgiu do meio da platéia: estão contando minha história
Aqui fica os nossos agradecimentos: Ao Rodrigo, Seu Dito e todos os homens que moram naquela praça e que nos receberam com muito carinho, diversão e respeito. Aos homens, que possivelmente não lerão essa postagem, que varreram e deram um movimento para entrarmos com nossa festa. As pessoas que nos foram assistir, Ao Miguelito e Marcinho (os queridos do Corpo é Palco) pela correria, preocupação, comidinhas, água e convite. Aos demais Organizadores do FULEC. A Floricultura da família Kawakami que cedeu o espaço para nos prepararmos e ao Will Veltroni Fotografia que registrou com muita sutileza esse dia marcante para a vida da nossa peça.
Nenhum comentário:
Postar um comentário