10 junho 2010

Ensaio 7/6/2010: Musicalidade dos atores

Estamos começando a refletir mais sobre nossa musicalidade. Já temos música ao vivo no nosso espetáculo "Isabela, a Astróloga de Araque", mas até a apresentação do Alderico — o Teatro Municipal de São Carlos — toda a sonorização ficava a cargo dos dois músicos, Mabel e Dudu, o que acabava sobrecarregando-os. Foi preciso um chacoalhão do João, nosso atual orientador pelo Projeto Ademar Guerra, para que caísse a ficha de que os atores podem e devem também se apropriar do som do espetáculo. E é isso que estamos começando a fazer.

Abaixo, o roteiro do ensaio que fizemos na segunda-feira.

1) Aquecimento
— Cada ator numa parte do salão. Só respirar e trabalhar o diafragma.
— Aos poucos, fazer com que o corpo se expanda a cada nova inspiração, e se recolha a cada expiração (o alongamento e trabalho com articulações vem de carona nisso)
— Um ator ajudar o outro a se alongar
— Se locomover pela sala (sempre expandindo e recolhendo)
— Estímulo das palmas do condutor: palma/expande, palma/recolhe (aumentando e diminuindo a velocidade)
— Movimento-dança estimulado pela música "Chiquita", uma valsa-choro

2) Jogos para as cenas
— Ritual para pegar instrumentos musicais: depois de terminada a música, chamei todos para um canto da sala. Os intrumentos no meio dela. O jogo era, um de cada vez, sair do canto, ir vagarosamente ao centro da sala, pegar um dos instrumentos, não emitir som nenhum, nem com o seu corpo nem com o instrumento, e se deslocar até o outro canto da sala. Foi bonito ver o pessoal pegando os instrumentos.
— Atores se espalham devagar pela sala sem fazer sons com os intrumentos. Contudo, dei o estímulo para que cada ator, quando quisesse, emitisse um som sem-querer-querendo. Ao ouvir esse estímulo, todos os outros atores deveriam olhar na direção do som e dizer "chiiiu!". Rolou bem legal isso também.
— Lentamente, chamei todos ao centro, e também lentamente começamos a querer ouvir os sons dos intrumentos. Ninguém falava. Todos estavam no jogo, na comunicação pelo olhar. Para quebrar, fizemos uma algazarra, uma barulheira (o que já fazemos na Isabela!). Depois, um ator faz um som, outro faz outro, e vai indo vai indo vai indo, criamos um ritmo! Aceleramos, ralentamos, tocamos forte, piano, forte, piano, forte.
— Comentários musicais: peguei da minha oficina de redação e da internet alguns microtextos engraçados: cantadas e piadas de pontinhos. Coloquei num suporte no meio de uma roda que nós formamos. À vontade, cada um ia ao meio da roda, lia um dos textinhos e os demais atores comentavam com os intrumentos. A coisa começou tímida, mas foi ficando cada vez mais divertida e criativa. Os atores começavam a chegar no meio da roda e a dilatar sua estada ali, se movimentando com tonos muscular, curtindo a brincadeira, se divertindo, saboreando os textos, fazendo cenas mesmo! E os comentários musicais cada vez mais ricos.

3) Nas cenas da Isabela
Fizemos o prólogo da nossa peça "Isabela, a astróloga de araque" e experimentamos alguns novos sons nele. Passamos a cena do Doutor com Isabela (Pai e Nádia) para vermos como os comentários podem funcionar na cena. Também deixamos todos os atores aparentes durante a cena, numa meia-lua no fundo do espaço cênico. Isso era uma idéia que vínhamos alimentando há tempos e que só agora estamos pondo em prática. E vamos desenvolver isso muito mais.

Para encerrar o ensaio, fizemos um improviso um improviso sobre a música do prólogo. Eis a proposta: cantarmos a última estrofe da música e depois voltarmos ao começo, que diz "Nós somos da commedia dell'arte". Cantado esse verso, era para a gente parar e começar a discutir o sermos ou não sermos da comédia dell'arte. Não era pra discutir cabeçonamente, mas criativamente. Surgiram várias propostas de alteração tanto nesse como em outros versos, fora todo o brainstorm sobre o assunto proposto.

Apesar do cansaço geral em que nos encontramos por conta das correrias do dia-a-dia, estamos numa levada criativa muito empolgante. Dia 23 de junho tem apresentação em Araraquara, pela XXII Semana Luiz Antônio Martinez Corrêa. Temos muito o que ensaiar ainda, só que estamos no caminho certo.

renato

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