21 julho 2010

Cartas - Pantaleão escreve para Isabela

Doce Isabela,

não podes conceber o júbilo em que me encontro com a proximidade de nosso
matrimônio. É uma pena nos falarmos tão pouco, entretanto estou certo de que isso
se deve a teu grande recato, característica que muito admiro em ti.
À distância, fico a sonhar com os beijos que colherei de teus lábios virgens e mais
todas as benesses que só um verdadeiro amor encerra. Seremos muito felizes
juntos.

Estou acertando o contrato de casamento com teu pai, meu velho amigo Baloardo.
Tens visto Florindo? Nas últimas semanas, ele tem passado algumas noites fora
de casa. Isso nunca ocorreu com tanta freqüência. Florindo sempre foi muito
namorador e já me fez desembolsar fortunas para abafar escândalos como
desonras de donzelas do campo ou abortos de senhoritas da nobreza local. Um
terror esse meu filho. Puxou ao pai. Também aprontei as minhas na juventude. Faz
parte do amadurecimento. Só que tudo isso são coisas das quais te protegerei.

Nasceste para o idílio, para o amor casto, e sou eu o agraciado, o escolhido para
acompanhar-te neste intento.
Escrevo estas linhas com uma pena que molho no tinteiro que é meu coração.
Despeço-me queroso de tua figura iluminada e ansioso com a união de nossas
almas para todo o sempre.

Mil beijos do teu, todinho teu
Pantaleão José da Silva

ps: creio que os sumiços de Florindo devam-se à viagem que arrumei para ele. Em
breve, ele irá estudar no exterior. Quero ver se ele toma jeito. A viagem, creio, está
deixando-o ansioso. Tu, Isabela, que conhece Florindo desde a mais tenra infância,
poderias fazer o favor de auxiliá-lo no que for possível? Vejo que ele precisa
desabafar.
5/7/2010

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